Lose Yourself

Perdi-te; a certeza é simples e letal e definitiva. Aceitá-la será uma tarefa árdua, talvez impossível, talvez inatingível, mas é a realidade e não posso fugir dela para sempre, por mais que tente ignorar o facto de já não estares aqui ou tentar criar na minha cabeça a ilusão de que ainda és minha. Perdi-te, tenho de ser honesto, com o mundo, com a realidade, comigo próprio. Perdi-te, quem sabe entre os beijos furtivos e os olhares apaixonados. Perdi-te, como uma criança que deixa o fio que prende o balão escapar. Perdi-te, e a sensação de vazio e medo que me assombra é algo que não pensava ser possível sentir. Sempre gostei de me considerar uma pessoa forte, a coragem sempre caminhou ao meu lado em todos os aspectos da vida; contudo agora, sem os teus braços à minha volta, sinto-me desprotegido, fraco, vulnerável. Perdi-te. Tenho que encarar isso honrada e corajosamente. Soltei a tua mão por breves instantes e o vento levou-te para longe. Perdi-te, já lá vai algum tempo, mas só agora tomo consciência disso. Durante todo o tempo em que estivemos separados a distância não foi dolorosa. Guardava a secreta esperança de que havias de voltar, mais cedo ou mais tarde, havia de te voltar a ver entrar pela porta novamente. Eras minha, tomava-te por certo, mesmo depois de partires. Afinal, eu julgava (e talvez ainda julgue, confesso) que entre nós havia uma ligação, que era o destino que nos mantinha juntos, e contra o destino a força humana é inútil, e o destino havia de te trazer de volta para mim. Mas só agora, só agora que te vejo com outra pessoa, agora que reconheço nos teus olhos o brilho de uma nova paixão, só agora dou conta que te perdi mesmo. Olho para ti e percebo que já não me pertences, sob forma alguma, e que talvez o destino se tenha alterado. Aquilo que sentes parece verdadeiro, tão verdadeiro que não consigo sentir-me invejoso, trocado, substituído, como seria suposto sentir. Estranhamente, sinto que estás no local certo, que encontraste finalmente a tua prateleira, o teu porto de abrigo. Eu não fui capaz de te acolher da tempestade…Talvez ele seja. E por isso que sei, sei que te perdi. Aquilo que fomos não voltaremos a ser e aquilo que sentias desvaneceu-se na linha do horizonte com o amanhecer. Volto para o quarto gelado onde o sol teima em entrar, e fecho a janela para que a luz não me atormente. Não, hoje vou chorar… até que a tua ausência se torne mais fácil de suportar.


Data: Natal 2007